domingo, 23 de setembro de 2007

Compra de votos e de mandatos vem de longe


Ministério Público de Minas pede ao STF laudos do valerioduto

24/09/2007

PAULO PEIXOTO
da Agência Folha, em Belo Horizonte
RUBENS VALENTE
da Folha de S.Paulo

O relatório final do inquérito da Polícia Federal que investigou o suposto esquema do valerioduto em Minas em 1998, concluído em julho, citou o ministro das Relações Institucionais, Walfrido dos Mares Guia (PTB), o ex-governador e atual senador Eduardo Azeredo (PSDB-MG) e indiciou 36 pessoas sob suspeitas diversas.

Márcia Gouthier/Folha Imagem
Citado no relatório da PF, Mares Guia diz que denúncias do mensalão mineiro são infundadas

O documento também reproduz lista, considerada autêntica pela PF, que descreve o envio de R$ 110 mil do esquema para a campanha do então candidato a deputado e atual governador de Minas, Aécio Neves (PSDB). Com base no inquérito, os investigados poderão ser denunciados ao Supremo Tribunal Federal pelo procurador-geral da República, Antonio Fernando de Souza.

A investigação é desdobramento do escândalo do mensalão, que atingiu o governo Lula, o PT e partidos da base aliada. Por ordem do STF, a PF passou a investigar se esquema semelhante, também operado por Marcos Valério Fernandes de Souza, funcionou durante a campanha de Azeredo.

A origem da investigação em Minas foram cópias de operações bancárias e lista vazados em 2005 pelo lobista Nilton Monteiro. A lista faz descrição de origem e destino de supostos recursos de caixa 2 e diz que o captado chegou a R$ 100 milhões. O candidato declarou R$ 8,5 milhões à Justiça Eleitoral.

O papel foi assinado pelo tesoureiro da campanha de Azeredo, Cláudio Mourão, e teve sua autenticidade atestada pela PF. Mourão assumiu a autoria da assinatura, mas não naquele papel. Os peritos concluíram ser impossível que a assinatura tenha sido plantada no papel.

Segundo a PF, o esquema funcionou da seguinte forma: 1) empresas de Valério obtiveram R$ 28,5 milhões em empréstimos de bancos em 1998 com o objetivo de usar na campanha; 2) vindo dos bancos, o dinheiro saiu do caixa das agências por meio de saques em espécie ou transferências bancárias para chefes de campanhas, candidatos ou fornecedores de materiais; 3) os empréstimos foram pagos por meio de outros empréstimos e por depósitos em dinheiro, "de origem não identificada"; 4) o publicitário era remunerado por meio de contratos com órgãos públicos e estatais, e a PF aponta desvios de recursos de campanhas publicitárias.

A suposta participação de Walfrido, na época vice de Azeredo e candidato a deputado, é referida diversas vezes no relatório. Ele foi coordenador de campanha de Azeredo em 1994. A "lista de Mourão" indica recebimento de R$ 24 milhões no nome do ministro em 1998.

Folhas escritas pelo ministro indicam, segundo a PF, movimentação de caixa 2. Walfrido alega, desde que o papel veio a público, que era apenas uma projeção de custos. Em 2002, Walfrido pagou R$ 507 mil de uma dívida cobrada por Mourão de Azeredo. O valor nunca foi devolvido ao ministro pelo senador, e o ministro também nunca cobrou-o, pelo fato, segundo a assessoria de Walfrido, de serem amigos.

Na lista estão nomes de candidatos a cargos proporcionais que teriam recebido dinheiro da campanha de Azeredo. A lista cita candidatos a deputados do PSDB e de partidos coligados. Há referências a 17 partidos e mais de 150 nomes de políticos.

Fonte:

Folha Online - http://www1.folha.uol.com.br/folha/brasil/ult96u329614.shtml

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